De cara lavada - 177
Martha
Medeiros
hoje me desfiz dos meus bens
vendi o sofá cujo tecido desenhei
e a mesa de jantar onde fizemos planos
o quadro que fica atrás do bar
rifei junto com algumas quinquilharias
da época em que nos juntamos
a tevê e o aparelho de som
foram adquiridos pela vizinha
testemunha do quanto erramos
a cama doei para um asilo
sem olhar pra trás e lembrar
do que ali inventamos
aquele cinzeiro de cobre
foi de brinde com os cristais
e as plantas que não regamos
coube tudo num caminhão de mudança
até a dor que não soubemos curar
mas que um dia vamos
Martha Medeiros
(1961) é gaúcha de Porto Alegre, onde reside desde que nasceu. Fez sua carreira
profissional na área de Propaganda e Publicidade, tenho trabalhado como redatora e
diretora de criação em vária agências daquela cidade. Em 1993, a literatura fez
com que a autora, que nessa ocasião já tinha publicado três livros, deixasse de lado
essa carreira e se mudasse para Santiago do Chile, onde ficou por oito meses apenas
escrevendo poesia.
De volta ao Brasil, começou a colaborar com crônicas para o jornal Zero Hora, de Porto
Alegre, onde até hoje mantém coluna no caderno ZH Donna, que circula aos domingos, e
outra às quartas-feiras no Segundo Caderno. Escreve, também, uma coluna
semanal para o sítio Almas Gêmeas e colabora com a revista Época.
Seu primeiro livro, Strip-Tease (1985), Editora Brasiliense - São Paulo, foi o primeiro
de seus trabalhos publicados. Seguiram-se Meia noite e um quarto (1987), Persona non grata
(1991), De cara lavada (1995), Poesia Reunida (1998), Geração Bivolt (1995), Topless
(1997) e Santiago do Chile (1996). Seu livro de crônicas Trem-Bala (1999), já na
9a. edição, foi adaptado com sucesso para o teatro, sob direção de Irene Brietzke. A
autora é casada e tem duas filhas.
Texto extraído do livro "Martha Medeiros - Poesia Reunida", L&PM Editores -
Porto Alegre, 1999, pág. 127.
|