Grampos, ou, Quem Comunica se Trumbica
Millôr Fernandes
Segundo Luiz Carlos Mendonça de Barros (doravante chamado LCMB), ministro das
Comunicações, o Presidente do BNDES, André Lara Rezende (doravante chamado de ALR),
para evitar que suas conversas telefônicas sejam entendidas, agora só fala em francês.
Quer dizer, para LCMB, francês é criptografia. Como sempre faço questão de
colaborar com o Poder, dou uma sugestão a ALR. Use, em suas conversas, a criptografia
intransponível do dia-a-dia do professor Antônio Houaiss. Garanto que nenhum técnico
será capaz de decifrar o que o senhor diz.
FALA DE ALR com LCMB (transcrita de VEJA):
ALR Dizemos ao Opportunity que o ágio será pequeno. Depois ele entra com ágio
maior, como combinado.
LCMB Entendi discutimos primeiro um ágio mais baixo, e na última hora...
ALR Concentra nisso. Esquece o outro.
LCMB Estamos praticamente com o quadro fechado.
ALR Ele estava querendo tempo. Entra com os espanhóis e isso cria competição.
LCMB Mesmo a Telerj sai com preço mínimo?
ALR Está tudo certo. Os inimigos estavam lá reunidos.
LCMB Está faltando dinheiro, doutor.
ALR Tem aí um monte de loucura que nós bombardeamos.
A mesma conversa posta na criptografia do imortal Houaiss:
ALR Expendemos ao Occasionality que o arras será nonada. Postumariamente ele
ingere o arras como pactado.
LCMB Discerni conchavase precipuamente arras subestado e ao cabo e ao
termo cumprimos o fadário.
ALR Escruta isso. Amnesia o outro.
LCMB Estamos consoantes à sina final.
ALR Ele almejava postergância. Agrega os ibéricos, isso desabrolha opositação.
LCMB Mesmo a Telerj é com maisvalia de menor alteza?
ALR Tudo certo. Os incompatíveis estavam lá em chusma.
LCMB Mas está faltando numo, meritíssimo.
ALR Tem aí uma carrada de amências que nós esbarondamos.
(E conversa que só eu ouvi)
ALR Eu excogitavaos como funâmbulos alambazados: são bufões de escamel.
LCMB O melhor é que os patuscos regamboleiam tanto quanto a malta que lhes paga.
ALR Patrazanas basbaques. Exsudam aprazimentos.
LCMB "Vot, a mares!" É de se lhe tirar o chapéu.
Millôr Fernandes escreve diariamente no jornal "O Dia",
aqui do Rio de Janeiro. De lá extraímos o texto acima, onde nos dá mais uma
demonstração de seu talento.
Tudo sobre Millôr Fernandes e
sua obra em "Biografias".
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